domingo, 11 de julho de 2010

A primeira vez a gente nunca esquece


Muitas chances de gol criadas, muitas chances incrivelmente desperdiçadas, muita raça, muita luta, muito toque de bola. Não foi uma decisão espetacular, mas foi sim um jogo empolgante.

E a Fúria enfim abraçou o planeta.

Acabou a fama de "amarelona". A Espanha hoje pintou o futebol de vermelho e levantou a mais linda e cobiçada taça do esporte bretão pela primeira vez em sua história. Um título justo pelo que jogou e pelo que tentou jogar neste domingo.

Justo também pelo que a seleção espanhola jogou na competição, mesmo com a derrota na estréia (tornando-se aliás a primeira equipe a conquistar o Mundial com um tropeço na primeira rodada) e com quatro vitórias por 1 x 0 na fase decisiva.

Até porque 1 x 0 não só tem o mesmo valor de um 5 x 0 como é mais bacana do que ganhar nos penais.

E muitas das recentes seleções campeãs, incluindo a Alemanha de 90, o Brasil de 94 e a França de 98, trouxeram na bagagem da bela campanha ao menos um triunfo na disputa por penais. A Espanha não precisou desta “loteria”.

E nem precisaria de prorrogação, caso Villa e Sergio Ramos não tivessem desperdiçado chances incríveis no tempo normal.

Tudo bem, pelo lado holandês, Robben e Mathijsen também perderam oportunidades fantásticas. Mas a Espanha teve mais iniciativa desde os primeiros instantes no já histórico duelo no Soccer City.

Sneijder não decidiu, mas jogou uma bela partida. Iniesta errou mais do que o normal, mas decidiu.

Robben, Xavi e Villa, os outros candidatos a protagonistas da finalíssima, apareceram bastante no jogo, mostraram um pouco de suas virtudes, mas não jogaram tudo o que se esperava deles.

A Holanda havia vencido seus seis jogos anteriores e hoje soube neutralizar em muitos momentos a grande jogada adversária: os toques de bola insinuantes pelo meio, especialmente com Xavi e Iniesta, mas às vezes também com Pedro (quando este recuava) e Xabi Alonso (quando avançava).

Alguém poderá então perguntar: não seria também justo se a Holanda tivesse triunfado?

Talvez não fosse totalmente injusto, mas não seria um desfecho tão belo. A Espanha é menos violenta e mais técnica. Procura mais o ataque e teve um goleador mais eficiente (Villa jogou muito mais que Van Persie).

Afora isso, os times se equivalem no aspecto defensivo, na habilidade de seus meias e atacantes e na eficiência tática. O que explica em parte o equilíbrio em boa parte da partida.

O que não se explica é a “vontade” exagerada de muitos atletas holandeses, que desandaram a bater desde o início do jogo.

Como toda ação tem reação, o time da Península Ibérica também exagerou na dose em alguns momentos.

Mas o excesso de faltas violentas e de cartões não prejudicou o espetáculo. Atrapalhou, no entanto, quem mais fez uso da pancada durante 120 minutos.

O holandês Heitinga foi expulso acertadamente na etapa final da prorrogação. A Espanha, que já vinha dominando o rival, aumentou a pressão com um homem a mais em campo.

E chegou ao gol com o ótimo Iniesta, um dos craques deste Mundial.

Um Mundial, diga-se de passagem, que não teve um Romário, um Ronaldo, um Maradona ou mesmo um Cruyff, que não venceu em 74, mas fez história.

Todavia teve não só Iniesta, mas também Xavi, Forlan, Müller, Sneijder, Oezil, Robben e, vá lá, com um pouco menos de rigor de minha parte, teve também Messi, Luis Fabiano, Luis Suarez, Tiago (ótimo meia português), Donovan e outros.

Foi o Mundial do jogo coletivo, dos bons esquemas táticos e dos jogadores que se multiplicam em campo, casos do atacante holandês Kuit, do zagueiro espanhol Puyol e o do volante alemão Schweinsteiger.

Epílogo

Não sei exatamente como entrará para a história o Mundial da África do Sul. Se um dos melhores ou dos piores dos últimos tempos.

Particularmente, eu gostei bastante. Algumas estrelas deixaram a desejar, assim como algumas seleções. Mas mesmo times que decepcionaram um pouco, como Brasil, Portugal e Argentina, tiveram alguns bons momentos na competição.

O futebol africano também deixou a desejar, mas ao menos um de seus representantes, Gana, foi valente e inspirador.

Chile, Paraguai e Uruguai mostraram serviço, assim como norte-americanos e mexicanos, numa prova de que o futebol eficiente também pode ser jogado do lado esquerdo do Atlântico.

Tivemos alguns excelentes jogos, algumas goleadas históricas e certamente muitos gols e defesas inesquecíveis.

E o que considero muito importante: tivemos um grande campeão, vencendo de maneira limpa e coroando um trabalho fantástico de um grupo diferenciado e um treinador de resultados sensacionais.

A Espanha de Villa, Xavi, Casillas e Iniesta é também a seleção de Vicente Del Bosque, técnico que usou e abusou da categoria de seus comandados, tirando proveito da técnica refinada de uns, da habilidade de outros e da pontaria calibrada de seu principal atacante.

Não quis criar esquemas táticos mirabolantes, facilitando sempre o trabalho de seus atletas dentro das quatro linhas.

Como resultado, a Fúria conseguiu nada menos do que um aproveitamento de 87% de pontos nos 61 jogos que realizou de 2006 (após a Copa da Alemanha) até este domingo.

Foram 52 vitórias, quatro empates e apenas cinco derrotas (três delas no longínquo segundo semestre de 2006).

A Espanha ainda fez dobradinha, ganhando há dois anos a Eurocopa. Apenas a Alemanha, em 72 e 74, havia conseguido ganhar a Copa após vencer a Euro (a França fez o contrário em 98 e 2000, ganhando primeiramente o Mundial).

Não há mesmo como contestar a histórica conquista espanhola.

E é besteira ficar agora tentando colocar defeito nesta fantástica Copa do Mundo. Sei que muitos intelectuais da bola já devem estar fazendo isso. Já este humilde jornalista cheio de defeitos está apenas lamentando o fim de mais um Mundial. E já sonhando com o próximo.

Nos próximos posts, ainda hoje, publicarei minha seleção da Copa e o ranking de gols de clubes.

Até daqui a pouco e parabéns, Espanha!!!

Um comentário:

Walter disse...

Parabéns a furia, mostrou serviço e venceu. Parabéns a laranja, time sem muito brilho, porém estremamente eficiente, que talves se perdeu um pouco no último jogo. Prabens a Africa do Sul, que deu conta do recado e surpreendeu. Parabéns ao esporte e a todos que trabalharam e procuram trazer alegrias para o proximo.