quinta-feira, 8 de julho de 2010

Lavando as mãos

Em muitas décadas do abominável regime político do Apartheid, tão ou mais triste do que a covardia e o preconceito dos antigos líderes africaners do país da Copa foi a neutralidade seguida por grandes nações do Globo.

Especialmente EUA e Inglaterra, parceiros econômicos de longa data dos sul-africanos. Os dois países, que tanto se preocupam historicamente com os mandos e desmandos de ditadores do Oriente Médio, ficaram décadas sem mover uma palha pela libertação de Mandela ou pelo fim do regime maldito.

Seguiram o exemplo de Pôncio Pilatos e ignoraram o sofrimento alheio. A população branca, em sua grande maioria, também lavou as mãos para o problema dos compatriotas negros.

E o que tudo isso tem a ver com futebol, pode a esta altura estar se perguntando o simpático leitor.

A princípio, quase nada. Mas é que a África do Sul foi palco nesta quinta-feira de mais uma lavada de mão histórica.

E desta vez, de nenhum sul-africano branco, muito menos de um lorde inglês. Quem pisou na bola, usando um termo futebolístico para voltarmos a um assunto ligado à bola, foi o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva.

Exatamente como acontece no futebol, a vida política também traz altos e baixos. E tudo pode mudar num único lance.

Pois bem, nosso ilustre chefe de estado havia marcado um golaço recentemente ao dizer que o presidente da CBF deveria ficar apenas oito anos no poder (dois únicos mandatos, portanto).

Porém, durante o lançamento oficial do logotipo (por sinal, muito bem desenhado) da próxima Copa do Mundo (a segunda em solo brasileiro), Lula deu um chute de bico no bom senso.

Após algumas horas de conversa com Ricardo Teixeira, o presidente surpreendentemente adotou outro discurso ao ser indagado pela imprensa sobre a questão.

Limitou-se a dizer que não iria se meter num discussão sobre uma entidade privada. Que tinha problemas maiores com os quais se preocupar

Resumindo, lavou as mãos!

Privada ou não, a CBF não é exatamente um banco ou uma rede de supermercados. Não foi criada por Ricardo Teixeire e nem inventada por nenhum empresário.

Simplesmente surgiu para organizar e representar o esporte mais popular do país. E isso deve ser feito, ora bolas, com democracia.

Não tem o menor cabimento um cidadão controlar o futebol de um país (e um país pentacampeão) por incríveis 21 anos.

"Assim querem as federações de futebol de todos os estados", ainda alegou Lula.

Mas não deveriam querer, presidente. Assim como ninguém deveria querer um terceiro mandato para Lula, seja ele o melhor ou o pior presidente da história.

O continuísmo é terrível na política, no futebol e em tantos outros campos. Ricardo Teixeira já fez bastante pelo futebol brasileiro. Tanto para o bem, quanto para o mal.

É hora de nosso futebol respirar novos ares.

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